Percebi o quanto pode ser perigoso acabar com as ilusões das pessoas.
Ainda que você esteja sendo bem intencionado e proclame uma ideia com o intuito de tirar o véu de alguma coisa (significativa ou não) as pessoas tendem a ver esse ato como ofensivo, como se nós estivéssemos tentando colocar a nossa realidade na cabeça da outra pessoa, mesmo que a realidade que falo seja científica e palpável.
Certo dia vi um grupo de pessoas conversando em um praça
entusiasmados e como eu estava próximo ao grupo involuntariamente ouvi um
pedaço da conversa. Falavam sobre alguns avistamentos estranhos que aconteciam
no sitio onde uma das pessoas moravam, achei interessante, me aproximei um
pouco mais e um dos que falavam mais frequentemente começou a dirigir o relato
para mim, ouvi atencioso. Pediam uma explicação lógica para tal fenômeno,
debrucei meu pensamento sereno sob os olhos assustados daqueles que ouviam, refleti
imóvel a ideia que se estendia e penetrava a mente burlada daquelas pessoas.
Depois de analisar os relatos e as interpretações das pessoas que
falavam, além de analisar também a recepção das conclusões entre os ouvintes,
cruzei os braços, olhei para aquele que parecia mais interessado na minha
resposta e teci minha conclusão puramente explicável, lógica e simples; no
entanto percebi que eles todos talvez preferissem ficar com a dúvida sob o
mistério contado do que de fato saber a verdade.
Esse nosso apego a ilusões pode ser aplicada em diversas áreas da
vida, principalmente no amor.
O único problema da ilusão do amor é que não existirá uma
explicação lógica e coerente, não para ambas as partes, para o todo. Sofri
quando alguém ou até mesmo a própria vida tirou o véu da ilusão poética do amor
e me mostrou a dura realidade dos fatos, amargurei o meu coração, meus olhos
derramavam magoas e no fundo do meu pensamento eu deseja não ter vivido aquilo
ou, continuar na dúvida ilusória do sentimento. Não precisa de muito analise
para chegar a essa conclusão.
A vida para mim é uma eterna busca pelo conhecimento, pelas
respostas; mas certas respostas que encontramos no decorrer da vida nos faz
pensar o quanto são felizes aqueles que conservam o desentendimento.
Quanto as coisas práticas da vida, as entendi. Ainda que falte
muitas peças para montar o quebra-cabeça eu descanso sereno e vou juntando o
que falta de maneira tranquila.
Já o amor, o amor que sinto prefiro não tentar entendê-lo, nem
tirar o véu que o deixa tão bonito e misterioso; no entanto se alguém fizer com
o meu amor assim como eu fiz com o grupo de pessoas na praça e vir me mostrar a
racionalidade, o lado triste da verdade, vou me sentir como sentiram-se as
pessoas quando falei que todo o mistério que eles falavam nada mais era que uma
coisa qualquer.
Que possamos deixar o amor assim, ilusório mesmo.
Wagner França